III

É de manhã que eu gosto de escrever. É quando tenho a mente fresca, quando ainda estou carregada de paciência e quando os meus sonhos ainda estão de mãos dadas com a realidade. De manhã, estou com a cabeça cheia de sonhos, os desejos podem tornar-se reais, e ainda estou a chegar do reino da fantasia, onde me encontrei em segredo com aqueles que mais amo, é quando travei batalhas com quem me magoou, e é onde me sinto em casa. De manhã é o meu lugar. É o meu lugar especial, é onde sou eu, genuína e verdadeira. Mesmo quando acordo carregada de mau humor, quando me queixo por isto ou por aquilo. Mas é aí, nesse lugar, que o meu íntimo é ele próprio.
E hoje, quando acordei pensei imediatamente em ti. Sim, em ti, meu amigo lindo, que trouxes-te magia aos meus dias. E pensei em ti, porque te devo umas desculpas sinceras. Porque não sei como o fazer sem ser com palavras. São elas que nos aproximam. Tal como em tempos me aproximaram de outras pessoas. É assim que mostro quem sou, e é assim que chego aonde quero.
Devo-te um pedido de desculpas enorme. Porque andei demasiado tempo na lua, porque me mantive sempre no meu mundo coberto de devaneios e loucuras, sem prestar atenção aquilo que poderias eventualemente sentir por mim. Desliguei os botões que permitem criar uma ligação intensa entre Homem e Mulher, e baralhei-me por completo com as tuas palavras.
Fui injusta, porque me mantive próxima de ti sem reparar nestes pequenos nadas e hoje não sei como lidar com isto.
Lembras-te de eu te contar que adoro Anatomia de grey? Sabes porque gosto assim tanto? Porque no principio quando a Meredith fala, quando narra aquela pequena apresentação sobre o episodio, é quase sempre sobre o amor, sobre os dramas da existência, e quase sempre imagino que ela mos dirige. Sim, seria impossivel isso ser real, mas sou uma sonhadora incuravel, e fico muito mais feliz quando imagino que essas frases me são dirigidas.
Há uns dias comentei contigo que ouvi uma frase linda, que vinha de encontro a mim, por me sentir exactamente igual áquela persoagem forte mas carente. A Dra Bailey estava a dizer ao homem que amava que não podia estar com ele, ela estava ocupada com cola. E eu, meu amigo lindo, tenho a dizer-te que és perfeito. És lindo, meigo e culto, querido doce e inteligente, mas chegas-te no momento errado. Chegas-te quando eu estava ocupada com cola. Dizem que o amor tem cola, pelo menos, lembro-me de me dizerem isso ha um ano atras, numa papelaria em Esposende, mas hoje sou eu que te digo que estou ocupada com cola. Com aquela cola que me juntou durante anos a outra pessoa. Hoje utilizo-a com outra finalidade. Estou a colar os bocadinhos que restam do meu coração fragil e despedaçado, como uma bola de papel amachucada e jogada no chão, como se sem importância. É assim que me encontro, com cola. Sim, é do genero Super Cola 3, porque pretendo que esta fase seja rápida, porque quero cola-lo sem deixar uma frincha onde possa regressar o mal que lá esteve, porque o quero fechar para o amor. Tu não tens culpa, mas eu quero estar sozinha. Quero rir com os meus amigos, beber uns copos de vez em quando, cortar o cabelo sem ter que esperar que alguem repare e me elogie, quero comprar roupas sem ter que justificar em que gasto o meu dinheiro, e quero manter-me serena, tal e qual hoje.
Desculpa por não reparar no resto do mundo, e por não ter reparado em ti antes, há já muito tempo. Sei que me terias feito muito feliz, mas hoje não te prometo nada. Quero estar assim, calma e sossegada, neste meu mundo, em que as manhãs têm o encanto que eu lhes quero dar.
Claro que sinto falta de ter alguem, obvio que existem dias em que quero beijar e ser beijada, em que quero amar e ser amada, mas a dor de outros tempos, não me deixa seguir esse rumo, e ainda bem. Assim não vou magoar quem nao merece, e posso sempre manter-me fiel a mim mesma.
Da sempre tua amiga!