16 de dezembro de 2010

*Parte I

Quando se tem alma de escritor, os devaneios e a loucura caminham de mão dada. O sofrimento é a forma de viver, e o amor é a unica causa para tanta insanidade mental.
Fala-se sobre tudo e no fundo, sobre nada. Escreve-se sobre nós mas sobretudo sobre os outros. Temos o poder de criar personagens distintas de nós, capazes de fazer aquilo que o nosso íntimo nunca teria. Damos vida, fantasiamos e brincamos com finais felizes, e pomos os nossos medos em pessoas altas e morenas, em Marias e Ritas, em mulheres fortes e corajosas e em miudas deprimentes e sensiveis. É esta a piada de escrever, è esta a magia de brincar com a vida de alguem que não existe, além de no nosso subconsciente.
Hoje quero dar vida a uma Maria. Mas não é uma Maria qualquer. É uma mulher forte, linda e destemida. É ruiva, tal e qual como eu, e para se assemelhar mais a mim, quero que ela tenha sardas tambem.
Esta Maria, esta mulher ruiva com sardas, tem uma personalidade forte. É bem disposta por natureza, adora rir e fazer sorrir, è vivaça e gosta da vida que tem. Está sempre feliz e vê a vida pelo lado positivo. Adora ler, a sua cor preferida é o lilás, e acredita no amor eterno.
Esteve apaixonada por um rapaz meigo, por um tipo doce e seguro. Mas quis a vida, que esse amor acaba-se como o fumo, que desmorona-se como as peças de um dominó.
Ora bem, esta Maria, podia ser eu, ou até podias ser tu. Porque já todas amamos, porque já todas vimos um grande amor desaparecer, rumo ao infinito, longe de nós, perto de um inalcansavel. A diferença entre nós, meninas comuns e entre esta Maria, que eu criei hoje, que criei ha cerca de dez minutos, è que eu posso faze-la feliz daqui a meia duzia de palavras, tenho o poder de voltar a faze-la amar, posso trazer-lhe um novo amor, ou deixar que ela volte para os braços daquele que amou, posso manter-lhe o sorriso ou fazer com que se sinta tão triste como se tivesse caído no fundo do poço.
A magia de brincar com a vida das outras pessoas, é que sabemos exactamente como a controlar, sabemos exactamente quais os pontos fracos, quais as suas necessidades e qual o poder que o nosso toque pode ter em outra pele. Essa é a magia de brincar com a vida das outras pessoas, mas quem o faz, faz-o porque permitiu que alguem brincasse com a sua. Fa-lo porque não tem controlo na sua vida, porque quer manter vivos medos do passado, porque se quer vingar ou sentir vingada atraves de gestos ou acções, e isso hoje, já me cansa.
Estou exausta de brincar com a vida dos outros, recusei-me a brincar ás casinhas, ao gato e ao rato com a vida de pessoas que me querem bem, cansei-me de manipular sentimentos, e o resultado é que me cansei que brincassem tambem com a minha vida. Cansei-me de aceitar que as coisas são assim e pronto, cansei-me da luta diária, fartei-me de ver o dia nascer, cansei-me de desejar que caia a noite, e cansei-me sobretudo desta pessoa em que me tornei, há uns dias! Fria, distante, que não sabe se é feliz ou infeliz, cansei-me de ser a jovem inocente á espera dos milagres, fiquei farta das palavras e do poder que elas outrora tiveram, cansei-me definitivamente de não saber quem sou! Apenas isso!

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