26 de junho de 2013

Quando era miúda queria ser escritora. Sonhava em passar dias e dias a escrever. A divagar sobre a vida de pessoas que não existem. Queria fantasiar e criar coisas que só pertenciam há minha mente. Queria escrever sobre reis e princesas, sobre gnomos e deusas, sobre fadas e criaturas do mal. Depois, em modo de adolescente mais crescida, queria escrever sobre amores. Sobre desejos, sobre paixões e loucuras. Queria sobretudo sentir aquilo que escrevia. Porque me parecia um dado adquirido encontrar um grande amor e poder descrever todas as sensações que poderia oferecer-me. A verdade é que cresci, que me tornei numa mulher e continuo a querer escrever sobre o amor. Continuo a querer entender as sensações tão contraditórias que muitas vezes estão á flor da pele. Mas este tema é complexo. Creio que nunca serei crescida o suficiente para parar de me questionar sobre o que cá vai dentro ou sobre o porquê de tudo ser como é. Eu e a mania dos porquês. Por muito que tenha tentado simplificar as coisas, e por muito que me limite a agir por impulsividade, por vontade, por tesão, continuo a ser a miúda que gosta de saber os porquês de cada coisa, sobretudo sobre relações humanas. Entender o amor é tentar desmestificar a liberdade. É passar todo o tempo a criar uma teoria que se tornará estúpida no momento seguinte á sua descoberta. Porque a vida muda num segundo. Porque os momentos de felicidade ficam cravados na mente, bem perto daquilo que apelidamos de memória, e porque em qualquer situação podem ser alterados. Sem aviso de recepção. Porque com o amor, junta-se o medo. Junta-se a dor. junta-se a saudade. E juntam-se ainda mais uma infindável lista de caracteristícas que nos podem levar ao abismo. O medo de perder, o medo de ficar sem, o medo de não construir mais e mais memórias felizes, o medo de não repetir experiências que foram avassaladoras. A dor de vê-lo com outra mulher, a dor de vê-lo jogar fora a nossa aliança, a dor de vê-lo levar uma miúda mais bonita ao sitio onde fomos felizes. A Saudade de ser a sua menina. A saudade de adormecer no seu peito. A saudade de fazer amor até sentir a sua alma. Todos estes paradigmas são semelhantes a cada um de nós, e a verdade é que mais cedo ou mais tarde todos vamos vivenciar e duvidar daquilo que sentimos. Escrevo estas linhas a ouvir Coldplay. A ouvir a faixa que tanto me uniu àquilo que julgava ser amor, aquilo que apelidei de eterno e infinito. E a verdade é que acabou. É que teve a duração certa para me ensinar o pouco que sei sobre o amor. Ou sobre ter uma relação. Ou sobre como deveria gostar de mim acima de tudo. Ensinou-me a viver com os meus erros, a ter mais calma, a gostar de cada defeito meu, a corrigir falhas, e sobretudo ensinou-me sobre quem sou. Já não restam lágrimas, já não restam dúvidas ou incertezas. Só memórias. E um lugar vazio que será ocupado certamente por quem me fizer entender um pouco mais, sobre aquilo que me leva a fazer o que gosto, escrever!

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