2 de março de 2014

-Estou finalmente livre!!- gritou ela.
Estava feliz finalmente. Vira-se livre de uma relação falhada. Seis anos de relação deram com ela em louca. As mentiras, as traições, as desculpas, os devaneios, as loucuras, a irresponsabilidade, a falta de bom senso e todas essas falhas que ditam o fim de algo que foi construído de forma harmoniosa. Também viveu momentos bons com ele. Davam-se bem, sempre a rir e a conversar sobre tudo. Eram amigos e ele era querido (quase sempre). Ela falava mais que ele, mas ele gostava. Deixava que ela achasse que tinha o controlo da relação mas sem que ela percebe, era ele quem dominava o seu feitio difícil.
Eram cúmplices, e sorriam de lábios abertos quando estavam juntos. Ela dizia que era ele lingrinhas, e ele gozava com o nariz dela. Eram quase sempre assim divertidos. Riam juntos a tarde toda, dormitavam e amavam-se.
Quase todos os amores são parecidos. Quase todos aqueles que amam se entendem, confiam, se dão, se entregam. E uma das partes acaba por falhar. E com eles foi igual.
Ambos falharam. Ele desistiu. Lutou por outras como nunca o fez por ela. Mudou a sua personalidade, ou então revelou quem era na realidade. E isso fez-lhe confusão. Isso causou lhe a maior confusão do mundo.
Era ele a mesma na altura e ela não se apercebera? Como é que ele mudou tanto? Como pode alguém descer tão baixo?
Perguntas que todos os dias lhe ecoavam na mente, perguntas que jamais veria respondidas, perguntas ás quais não queria resposta. Sabia que a verdade iria magoar mais que as inúmeras hipóteses que lhe rompiam a imaginação.
Andou tempos perdida. Á procura de saber quem era. A sentir-se culpada por todos os erros que cometeu.
Viu e ouviu muita gente. Viu situações que nos piores cenários que imaginava, jamais seriam reais. Mas eram,e doía imenso. Era doloroso vê-lo a lutar por algo que jamais achou ser possível. Viu-o desfilar com outra mulher. E depois mais uma, e outra. E ainda outra. Comparava-se com todas. Queria saber em que eram melhor que ela. Não sabia que a forma como vemos as pessoas depende apenas de cada um de nós. E que o melhor numa pessoa, pode ser visto como o pior por outra.
Culpou-se. Sentiu-se cansada. Mas não chorou. Não deixou que as lágrimas caíssem. Dizia sempre que as lágrimas tinham esgotado com ele há anos atrás. E mantinha-se assim. Sem seguir em frente. A recordar um passado tão passado que nem ele o recordava.
O maior desejo dela era esquece-lo. Pediu-o quando soprou as velas no aniversário. Pediu-o quando ouviu as doze badaladas do ano novo.
Mas não conseguia. Ou então não tentava o suficiente.
Aos poucos desligou-se. Deixou de querer saber. Deixou de procura-lo no meio das multidões.
Até ao dia em que se sentiu perdida. Viu-o com outra mulher. Com alguém que a magoou. Com alguém que causou desconforto e a fez passar por louca. Viu o sorriso dele de orgulho com ela. O sorriso dela de vitória por poder estar ao seu lado. Nada mais havia a esperar.
Quis chorar, quis fugir...mas não podia. Limitou-se a entender que a história dela terminou. Que o fim demora tempos diferentes em cada um. Que a dor iria desaparecer com o tempo, que as recordações estariam sempre presentes em cada um de formas distintas. E que o amor já acabara há muito. Só restava dor, e que essa dor não a poderia impedir de seguir em frente.
Mudou de vida. Foi quem sempre quis ser. Sorria o dia todo. Pensava em coisas boas. Partilhava com os outros o que de bom sabia.
E assim, sem mais nem menos, depois de tanto de sentir presa a ele, se desprendeu. Soltou-se.
Desapegou-se.

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